Sobre o blog e algumas atitudes de comportamento.

Como o próprio nome diz: SketchFashionTrends (Tendência de Moda em Desenhos ou Desenhos de Tendência de Moda), este blog se propõe a mostrar as principais tendências de mercado de Moda através de sketches.
A proposta é funcionar como uma ferramenta de trabalho que norteie o desenvolvimento das coleções da estação.
A linguagem é voltada para confeccionistas e estudantes de moda, e claro, para todos que se interessem pelo trabalho de desenvolvimento das coleções.
Não me lembro quem disse que: “- A criação é feita com 99% de trabalho e 1% de criatividade”. Eu sei que é uma frase polêmica e o tema abre espaço para uma discução sem fim, já que a criatividade é inerente ao ser humano e o caracteriza como tal, e, portanto o acompanha desde sempre.
Na minha carreira como professor de moda, conheci alunos talentosíssimos, mas que não tinham o que eu chamo de: - Poder de realização. E vi muitos profissionais medíocres com tal poder que estão aí, e vocês sabem que é verdade.
O que eu coloco aqui na realidade é uma forma de se organizar o processo criativo em função de se obter um resultado concreto:
A realização de uma coleção de moda feminina.
Outros aspectos deste trabalho como: Planejamento e coordenação de coleções, estratégia de marketing, de imagem e comercial serão discutidas a posteriormente.


Então, mãos à obra:

Cartela de Cores Verão 2011

Nos estudos identifiquei dezoito atitudes de comportamento de moda relevantes, são eles:
1.Power Gold
2.Urban Warrior
3.Kiltshirt I
4.Kiltshirt II
5.Alistre-se
6.Long Dresses
7.Tie or Death
8.Sweet
9.Power and Sex
10.Piece de Resistance
11.White your Shape
12.Wonderful Alice
13.Power Dresses
14.Lace your Shape
15.Urban Neutral
16.Drape your Shape
17.Animal Print

18.Ultra-Short

1.Power Gold:

Inspiração “Vintage”. O clima é meio cabaré, mas cabaré alemão da década de 1940. A história aqui é Glam.

Positivo: Dá para buscar inspiração nas divas da época, do cinema Hollywoodiano e fazer coisas bem glamorosas.

Negativo: O dourado, assim como efeitos metalizados só é conseguido através de fios sintéticos ou películas que revestem tecidos. Resultado: muito quente. Além do que o dourado e as cores metalizadas, exceto a prata, podem dar um ar muito antigo, meio dejavú.

Conselho: Usar preferencialmente na moda jovem, em modelos pequenos para botton (short, micro saia, etc). Nos detalhes em combinação com outras matérias pode ser um recurso mais comercial.

2.Urban Warrior:

Nossas Guerreiras Urbanas são sexies e vigorosas. A inspiração é étnica com um conceito Tribal Chique.

Positivo: É uma inspiração muito versátil e pode ter amplo desempenho no guarda-roupa. E vai do escritório à balada (guardadas as devidas proporções, of course). E se permite uma infinidade de combinações com acessórios, já que a estampa é abstrata e carregada de traços.

Negativo: Como os modelos são adornados com aviamentos de couro e metal, se você não cuidar o Look pode ficar carregado.

Conselho: Crie os aviamentos. Pesquise a grife Balenciaga, que foi quem propôs.

3.Kiltshirt I

4.Kiltshirt II

A boa e velha camisa xadrez.

Aqui vale uma infinidade de xadrez: do lenhador ao kilt escocês. A proposta é para a moda casual. O conceito é para moda jovem.

Positivo: É um coringa e tanto. Para alguns confeccionistas é uma oportunidade e tanto para desovar estoque de matéria prima, já que nenhum padrão de xadrez é imposto aqui, sem contar que o xadrez dá um ar atemporalidade.

Negativo: Errar no shape. Essa é uma proposta perigosa olhando por esse aspecto. Pois a Moda Brasileira ainda peca muito na execução do shape.

Conselho: Faça modelos mais secos e na dúvida mais próximos do básico. Cuidado com batas, esse recurso já foi muito usado. Mas nunca deixe de ousar.

Ah! Para as consumidoras: se forem pegar a camisa do irmão ou namorado não se esqueçam de pedir e devolver depois. Lavada e passada.

5.Alistre-se:

Perdão pelo trocadilho, eu não resisti. Clássico de verão! Agora cedendo à perseguição intermitente dos 80’, Haja fôlego!
É um dos temas mais propícios para malharia. Aqui vale alguns recursos como, por exemplo, a mistura de padrões, recortes e até patchwork de listras ou cocktail de listras. Algumas grifes usaram a bandagem que é de uma outra atitude com fundo contrastante.
Positivo: Alegre, divertido e bem aceito pelo mercado. E da forma como vem proposto é um bom desfio para criatividade. Permite uma mobilidade grande no desenvolvimento. O desafio é reconceitualização, já que bem batido.
Negativo: o preconceito com as listras na horizontal, já que as indústrias são meio limitadas na de tecidos, principalmente malha de listras na vertical.
Conselho: Opte pelas listras estampadas ou em jacquard. Use detalhes em liso e estampas que harmonizem como detalhamento.

6.Long Dresses:

Revival setentista. Adooorooo! Com um “que” étnico.

Linha fluída. Perfeito par soirées. O shape é bem limpo e dá uma super valorizada nas longilíneas. Permitem-se fendas quebrando um pouco a monotonia e é perfeito para a consumidora brasileira que abre mão dos recursos óbvios de sensualidade (decote, comprimento e transparências).

Positivo: Dá para abusar de cores quentes já que não há estampa na proposta. Os tecidos são mais sofisticados e com movimento o que evidencia o corpo. Além de dar um “up” nas mulheres de personalidade e atitude que não passa batido.

Negativo: Bom para começar é para um nicho de mercado de mulheres que sabe quem são e principalmente onde estão. Além do que o uso de lingerie é um pouco limitado. É puro GLAM.

Conselho: Se este perfil de consumidora não compõe o seguimento que você atende opte pela atitude 9: Power and Sex.

7.Tie or Death:

Mais um trocadilho irresistível sobre o bom e velho Tie-Dye. Só que agora longe da inspiração Hippie. Sofisticado, ele vai da roupa ao acessório. As cores ora sóbria, ora vibrante, vem mesclada ou blocadas nos ombros e barra. E por incrível que pareça, a proposta é urbana e sofisticada, mas continuam em tecidos leves e preciosos.

Positivo: É bem versátil e atende quase ou todos os seguimentos. Dá um aspecto de exclusividade e é um bom exercício que deve ser empregado em shapes que passem longe de batas, “vestidões e saiões”.

Negativo: O efeito não muito simples de ser obtido. Normalmente ou é caseiro ou é tingido em barcas e poucas empresas são capacitadas.

Conselho: O mais seguro é optar pelo tecido estampado. Por favor, nada “hippongo”, please! A não ser que você tenha o talento de Anna Sui.

8.Sweet:

Jovem e “Fun”. Atitude bem ciquentinha. Cores suaves em contra ponto com cores ácidas e detalhes marcados com cores sóbrias. O look remete ao compromisso com a frivolidade da juventude despreocupada. Mas é só o stylist.

Positivo: Favorece aquelas que não estão muito em for, pois é evasée. Pede o uso de “pois”, Piquet, e florais ingênuos. Pede também modelagens primorosas.

Negativo: Não chega a ter muitos pontos negativos, pois cai bem em vários gêneros.

Conselho: Fuja de opções muito óbvias. Capriche na modelagem e cuidado com shapes muito curtos. Se não vai ficar meio Chiquita (do Xavez). Infantil.

9.Power and Sex:

Inspiração “In Nature”. Longos primorosos. Shape amplo, mas nem por isso menos sexy ou urbano. As modelagens dão impressão a primeira vista de serem austeras por conta do volume. But, não se engane. São elaboradas e extremamente sexy e urbana. É claro que o look vai também à praia. Tudo neste look é pensado.
Fendas estratégicas. Tecidos que valoriza o movimento.
Positivo: Tecidos leves e preferencialmente naturais. Cores definidas. Dão a falsa impressão de se estar nua, além de poderem ser usado com regatas e segunda pele.
Negativo: Não é para todos. O shape é restrito a certas consumidoras. Exige muito estudo no desenvolvimento.
Conselho: Use tecidos leves para fazer contra ponto à cor. Evite estampa.

10.Piece de Resistance:

É o Punk-Rock dando o ar da graça em pleno verão. Atitude urbana e jovem. Totalmente musical, proposta pela casa Balenciaga sob direção do talentoso Gilles Ghesquièrre. Só que agora vem suavizado pela renda.

A calça é a bola da vez, bem elaboradas. Toques de alfaiataria também ajudam a quebrar a monotonia, assim como recortes e mistura de matéria.

Positivo: É muito difícil que o look não ficar moderno. Estrategicamente é um grande recurso, pois seduz por si.

Negativo: Pecar pelo exesso, já que a proposta mistura algumas atitudes. Pronta para a balada.

Conselho: Só trabalhe esta atitude se seu conceito enquanto marca está adequado à atitude.

Se sua consumidora tem outro perfil: fuja.

11.White your Shape:

A atitude vem quase como uma catarse por uma série de anseios coletivos, como por exemplo, a Paz. Tem coisa mais importante? Fundamental para a Felicidade. Vem também, com o desejo de purificação em contra ponto ao que acarreta ser moderno. Por isso capriche nas fibras naturais e orgânicas. É com certeza a mais engajada.

Positivo: É uma das atitudes que mais acredito: primeiro por ser atemporal, segundo porque é favorável à estação, terceiro porque é muito versátil.

Com certeza de agora para adiante é provável que vejamos sempre uma proposta em que o branco é a Estrela.

Negativo: Recorrer à obviedade no shape e nos acabamentos.

Conselho: Cuidado na escolha dos tecidos. Se escolher o Lesie opte por um shape mais estudado. Tente fugir das batinhas e dos tomara que caia arrematados com elásticos.

12.Wonderful Alice:

A doce e surreal Alice de Louis Carrol sob a visão de Tim Burton para o cinema norteia a atitude. O frescor de um banho de fantasia e sonho. Suave mas nem um pouco bobinha, sonhadora, mas muito sedutora. Vide Anne Hathaway.
Vem quase que como uma nuvem. O shape tem um "quê" de “New Look”.
Positivo: É muito sedutor já que está no imaginário coletivo. Permite uma mistura de matérias sofisticadas como tules, rendas, seda, tafetá e cetim. É bem jovem com a saia mais ampla e curta, então para outros seguimentos o jeito é caprichar nas partes de cima.
Negativo: Não cabem aqui calças e o uso de short é restrito. O risco é o look ficar muito infantil. Mais uma vez a modelagem é fundamental.
Conselho: Capriche em corsets, corpetes e espartilhos com estampa de floral porcelana.

13.Power Dresses:

O Power Dress está se tornando um clássico ou seria um veterano?
Bom, o certo é que as mulheres não estão dispostas a abrir mão desse herói. Então vamos lá. Mesmo que por forma.
Positivo: Já é amplamente aceito e esperado.
Negativo: O lugar comum.
Conselho: É em produtos como este que uma marca mostra seu valor. Aqui cabe o conceito de re-conceituar. Parece redundância, mas é o seguinte: pense e estude profundamente sobre o DNA (pessoalmente abomino está metáfora) de sua marca. Pense em que se baseia seu conceito estético, forma, shape, no comportamento de sua consumidora e no que ela realmente espera de solução com sua marca.

14.Lace your Shape:

A sofisticação da renda. Um novo romance, que mesmo tendo sido proposto por Marc Jacobs na Louis Vuiton há duas estações no inverno, parece que vai vingar só agora.

Positivo: Tem tudo a ver com o verão.

Negativo: Exagero e ficar com um “Look Vintage”.

Conselho: Um tanto burlesca, a atitude pode e deve ser suavizada com peças mais usuais e básicas para as propostas da estação. Faça peças inusitadas com uma jaquetinha, regatas, coletes. Apliques em jeans, use com malha e não se esqueça que a renda compõe outras atitudes. Não borde. Tente estampas localizadas.

15.Urban Neutral:

Atitude contemporânea dispensa auto-afirmação. É quase um complemento da atitude White Your Shape. Aqui se privilegia as cores neutras também em fibras naturais em tricolines, gabardines e sarjas leves.
Positivo: Versátil entra e sai de qualquer lugar além de atingir uma gama bem ampla de consumidoras.
Negativo: Se fizer um estudo minucioso do Shape é difícil dar errado.
Conselho: Capriche na modelam anti-fit para as partes de baixo. É a hora e a vez da Wild Pant.

16.Drape your Shape:

Tá bom, faz já duas estações que se “Drape your Shape”, vide as gregas das estações passadas. Mas não dá pra negar que Helmut Lang e Vionnet deram o tom nesta atitude e fizeram um look menos dramático, mas mesmo assim é a mais dramática da temporada. É isso que chamo de re-conceitualizar.
Positivo: Favorece a malharia e moderniza o tie-dye.
Negativo: Fazer Shapes com cara de estação passada. Além do que, vai tecido.
Conselho: Faça peças lisas que coordenem com os bottons. Use só tecidos leves e com movimento.

17.Animal Print:

Atitude do “Tribal Chic” estende seus efeitos nesta temporada com releitura das peles de felinos exóticos. A novidade está no fundo e a estilização das manchas. Cores pasteis, cítricas e flúor dão uma cara nova, apesar da referência “oitentista”. As amantes da cor tradicional têm sua vez também, mas com mais uso de cores claras de fundo.
Positivo: A brasileira adora peles de bicho. E esta é uma daquelas tendências que podem se infiltrar todos os aspectos do seu guarda-roupa. Do escritório, fins de semana casuais, jantares sofisticados, ou mesmo apenas uma noite divertida.
Negativo: É uma proposta que deve ser utilizada preferencialmente em vestidos para estação. Em blusas já foi muito usado. Tente calças.
Conselho: É uma proposta que deve ser utilizada preferencialmente em vestidos para estação. Em blusas já foi muito usado. Tente calças e shorts.

18.Ultra-Short:

Bom pelo último desfile da dupla Dolce & Gabana (Inverno 2010/11), essa atitude já bem difundida deve seguir seu curso como uma tendência quase hábito da brasileira jovem. O titulo faz jus ao modelo: - Ultra Curto.
Positivo: Já é esperado com ansiedade pelas consumidoras jovens. Não as decepcione.
Negativo: Cair na obviedade do "já existe" só que mais curto.
Conselho: Vale à pena diferenciar na matéria-prima. Para a noite vale matérias sofisticadas e sintéticas. Faça uso de alfaiataria na modelagem.




Considerações Finais:
A cor mais bombada é sem dúvida o turquesa, jade e todos os azuis esverdeados e verdes azulados. Certa dose de sonho e fantasia deve ser empregada, pois na última estação a roupa nunca teve tanto a cara de roupa. Capriche nas escolhas de estampas e cores, pois parecem ser bem definidas e puras.
Nos próximos post vamos falar um pouco de como tudo isso se desenvolve e muito mais.
Não se esqueça sempre de perguntar:
Por que não?




Ilustrações: Marcos Borches